Eu acordei muito bravo naquele dia das crianças. É porque o feriado caiu no domingo, e como domingo não tem aula foi o maior sem graça o feriado. Quando eu crescer e for político, vou proibir feriado no domingo.
Eu ainda achei que meu pai iria me dar a bicicleta que eu pedi e saí da cama rapidão pra ver se ele tinha comprado, mas aquele dia não era mesmo o meu dia. Ele falou que a bicicleta chegaria no Natal e para eu não ficar muito triste, ele me deu uma camisa do Cruzeiro. Aí eu fiquei um pouco mais alegre, mas falei para não esquecer da bicicleta no Natal. Peguei a camisa e fiquei meio triste de novo. É que a camisa não era a 10, do Alex. Todos os meus amigos cruzeirenses tinham a camisa do Alex e meu pai me deu a número 9. Não gostei muito não, mas para não deixar meu pai chateado vesti a camisa assim mesmo.
Fomos almoçar na casa da minha avó, como todo domingo, inclusive nos domingos de feriado. O almoço da minha avó era gostoso pra caramba, mas tinha sempre a mesma coisa, frango e macarronada. Depois do almoço, meu pai me levou para assistir ao jogo do Cruzeiro contra o Galo, em um bar perto da casa da minha avó. Eu queria muito ver o jogo mesmo, porque o Cruzeiro estava com um time bom demais. Já tinha ganhado do Santos, do São Paulo e agora tinha que vencer o Galo e aí ficaríamos perto do título de campeão brasileiro. Aí eu pensei, nossa, em dezembro vou ser campeão brasileiro e ainda vou ganhar uma bicicleta!
O bar estava cheio de amigos do meu pai e os filhos deles, todos lá, com a camisa do Alex. Só eu que não estava com a 10 e fiquei chateado de novo, porque os meninos ficaram falando que eles eram o Alex e eu, não. O jogo estava chato pra caramba, até que o Maurinho cruzou uma bola da direita e o Mota de cabeça fez o gol do Cruzeiro. Todo mundo se abraçou no bar, meu pai ficou maior alegre. Mas quem mais pulou fui eu. Sabe porquê? Por que só eu que estava com a camisa do Mota, e ele fez o gol da vitória. Aí eu fiquei feliz demais e tirando sarro da cara dos meus amigos, porque só eu era o Mota. No fim das contas, aquele feriado que caiu no domingo foi legal pra caramba!
***
Meu tio passou na minha casa cedão com uma caixa de foguetes. Eu, como sou esperto, lembrei que era porque tinha jogo do Galo, contra o Cruzeiro. Para fazer uma média com meu tio naquele dia das crianças, pensando em ganhar um presente, eu corri pra pegar minha camisa do Galo na gaveta. O que não entendi é que ele começou a soltar os foguetes meio-dia, bem antes do horário do jogo. Depois ele me explicou que os foguetes eram para celebrar Nossa Senhora Aparecida, que estava fazendo aniversário – ou algo assim – naquele dia. E eu pensando que era feriado porque era dia das crianças.
Mas meu tio me deixou maior alegre foi quando ele disse que iria me levar ao jogo, no Mineirão. Nossa, eu até tremi de alegria e nervoso. Era a primeira vez que eu assistiria ao clássico no estádio. O Galo estava tão ruim, tadinho, perdia pra todo mundo naquele Brasileiro, mas eu nem ligava, queria é ver o clássico. No caminho pro estádio, meu tio e o amigo dele só falavam mal do Galo. Reclamavam do Doriva, do Euller, até do Taffarel eles falavam mal. Mas quem eles mais xingavam, e com nome feio, era um tal de Dinho, que eles chamavam de Dinho Precon. Depois meu tio explicou que o apelido é porque ele só acertava os cruzamentos na placa da Precon atrás do gol. Meu tio era o maior entendido e me explicava tudo direitinho.
O Mineirão estava lotado e meu tio não parava de xingar um minuto. Até que o Galo fez um a zero e todo mundo ficou feliz demais. Meu tio ajoelhou, sorriu e tals, só não parou de xingar o Dinho. Aí, o Dinho pegou uma bola no meio-campo, e meu tio gritando pra ele passar pra alguém, só que o Dinho correu, correu, não ouviu meu tio e chutou pro gol. E foi gol!!!! O Galo ganhou o jogo de 2 a 0 e na volta pra casa, meu tio começou a elogiar o Dinho pra caramba. Adulto é tudo esquisito mesmo.
FELIZ DIA DAS CRIANÇAS, ESPECIALMENTE PARA ATLETICANOS E CRUZEIRENSES!
MUITA PAZ HOJE, NO MINEIRÃO
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