terça-feira, 7 de julho de 2009

A obsessão do futebol brasileiro

Por Rivelle Nunes


Os mais jovens não se lembrarão, mas houve um tempo que time brasileiro dava de ombros para a Taça Libertadores. Durante boa parte da década de 1970 e 1980 do século passado as equipes brasileiras que garantiam a vaga na única competição continental simplesmente ignoravam a disputa na maioria das vezes. Entenda ignorar como não se planejar, não dar atenção. Tanto era assim que, depois do Grêmio ter chegado à final em 1984 e perdido o título para o Independiente, outro time tupiniquim somente decidiu o título em 1992. Foi o São Paulo, dirigido por Telê Santana, bicampeão da América.

Após o título do tricolor, os clubes brasileiros olharam de forma diferente para La Copa. Mais pelos valores que começaram a circular no futebol, com patrocínios e prêmios milionários, do que pelo prestígio de ser campeão da América que, diga-se, sempre foi o mesmo desde que o Santos, de Pelé, desbravou o continente no início dos anos 60.

O São Paulo chegou a três finais seguidas – 92/93/94 – o Grêmio no ano seguinte, com título, o Cruzeiro também foi campeão em 1997, o Vasco em 1998 e o Palmeiras em 1999. Se na década anterior o Brasil tinha alcançado apenas três finais e dois títulos – Flamengo 1981 e Grêmio 1983 - na década de 1990 os times daqui chegaram a sete finais levantando seis taças.

A supremacia do então futebol tetracampeão do mundo continuou na década seguinte. O Palmeiras foi vice em 2000, o São Caetano em 2002 e o Santos em 2003. O primeiro título do novo século aconteceu com o São Paulo, em 2005, numa final caseira, contra o Atlético/PR. No ano seguinte, novamente final brasileira, entre São Paulo e Inter, com o colorado ganhando a taça. Em 2007, o Grêmio foi vice-campeão perdendo para o Boca Juniors e, ano passado, o Fluminense deixou a taça escapar para a LDU. No último ano da década, temos novamente um brasileiro na decisão. Nos anos 2000, somente em 2001 e 2004 o torcedor brasileiro ficou de fora da decisão da Copa.

A mudança de mentalidade dos dirigentes brasileiros foi tão grande que, hoje, estar na Libertadores virou o objetivo mais importante do ano. Times não falam mais em ser campeões brasileiros. Querem, sim, terminar a competição entre os quatro primeiros para poder participar do torneio que rende milhões aos cofres graças àqueles patrocínios falados lá nas primeiras linhas. Ser campeão nacional parece ter virado um simbólico título entre os quatro grandes vencedores que conquistaram a vaga. Assim como a Série B, que pode ser considerada uma competição com quatro campeões, os que ascendem à Série A, o Brasileirão virou, também um torneio com múltiplos campeões. Sinal dos tempos, e das cifras.
O texto acima foi publicado originalmente no site www.clubedoesporteweb.com.br

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