quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Está no blog do Juca

O papel da Copa-2014

Na onda do Mundial no Brasil, aparecem diversas revistas sobre futebol, o estrangeiro, de preferência*

De repente, não mais, como diria o poeta, o país que tinha apenas uma revista de futebol, tem, se a conta não estiver errada e a memória em dia, nada menos do que meia dúzia.

Todas mensais, é verdade, nenhuma semanal, mas seis.

Mais que em países com hábitos de leitura incomparavelmente maiores que os nossos, proporcionais, por sinal, à paixão, também maior, que dedicam ao esporte.

No começo, estamos falando de 1970 para cá, era só a "Placar", embora títulos como a "Gazeta Esportiva Ilustrada", "Revista do Esporte", "Manchete Esportiva" e outras menos votadas tenham precedido a semanal, no lançamento e até 1990, da editora Abril.

A ’’Manchete Esportiva’’, aliás, voltou para tentar concorrer com "Placar", mas durou pouco.

Eis que, no entanto, a Copa do Mundo no país parece ter encorajado diversas iniciativas.

Exceção feira à revista "Trivela", projeto de um grupo de bravos jornalistas que já está em seu terceiro ano e que de tão corajosa é contra a Copa no Brasil por ser comandada por quem a comanda, eis que agora temos as revistas "Invicto" (cujo logotipo, por sinal, é quase ilegível); a For-For-Two (yes, you are in Brazil!), que se orgulha de não querer mudar o futebol; a Gol F.C., e a Fut Lance!, esta com o respeitável respaldo daquela que já é a maior editora esportiva da América Latina.


Se a sobrevivência é complicada em tempos de paz, como as idas e vindas da "Placar" comprovam em quase 40 anos de turbulência, que dirá nesta guerra da crise mundial, com o dólar indo às alturas e com ele o preço do papel.


Cada um dos investidores deve saber o que está fazendo, mas o curioso é observar os paradoxos da globalização e seus efeitos em nosso futebol e nestas revistas.

Se a Copa do Mundo potencializa tais efeitos a níveis estratosféricos, a aposta da maioria desses novos editores está concentrada no futebol que se pratica fora de nossas fronteiras, a ponto de uma dessas publicações ter seu título em inglês, em vez de usar o familiar Quatro-Quatro-Dois como se faria poucos anos atrás.

E com conformismo explícito, tipo se o estupro é inevitável, relaxe e goze, (sem nenhuma alusão nem ao desastrado ex-prefeito do "estupra mas não mate" nem à espevitada ex-prefeita que é casada e tem três filhos homens).

Porque não se cogita discutir o modelo de gestão do futebol brasileiro, exportador de pé-de-obra, dado como uma realidade que está aí e veio para ficar.

A aposta é de que o Barcelona em breve será tão popular como o Flamengo é por aqui e que as capas podem ser feitas não só com os brasileiros que jogam lá fora como, também, com os estrangeiros, cada vez mais familiares principalmente para quem tem o privilégio da TV por assinatura, afinal, a elite que lê.

Ora, é óbvio que a Copa do Mundo pode até ser uma oportunidade para que se dê uma surfada em sua onda, mas surfistas, no caso, podem virar sinônimo de oportunistas, razão pela qual o afogamento da maioria é inevitável mesmo antes da festa (da farra?) de abertura do Mundial, seja onde for.

Enfim, é revista demais para futebol de menos. Não vai dar certo.

*Coluna escrita para a edição nacional da "Folha de S.Paulo" desta quinta-feira, 20 de novembro.

O link: http://blogdojuca.blog.uol.com.br/arch2008-11-16_2008-11-22.html

Notas do blog:
*A Placar já não é a mesma há muito tempo. Virou uma revista de celebridades, contando a vida do Richarlison em família, as aventura de Robinho em Madrid, colocou Riquelme no Corinthians. Enfim, mais fofoca que matérias.
Que saudades dos anos 1980... A Trivela é uma revista interessante, mas seis revistas em um país que quase não lê, é coisa pra caramba. Também acho que não dará certo, torço para que eu esteja errado.

** Em Minas Gerais não há sequer uma revista especializada em esportes. Aliás, não há quase revista especializada em nada entre as montanhas da Alterosas. De futebol é que nunca haverá mesmo, com apenas dois times de ponta e recursos infinitamente menores que em SP e RJ.
Nem o Atlético possui uma revista oficial do clube. O Cruzeiro tem a dele, há muitos anos e o Ipatinga até algum tempo também tinha sua publicação.

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