quinta-feira, 30 de abril de 2009

Paixão




Dois exemplos, e que exemplos:

Está no blog do Torero

O dia em que me tornei atleticana

(como o Atlético Mineiro foi do céu ao inferno em quatro dias, coloco aqui o encorajador email mandado por uma torcedora)

Texto de Elen Campos

Motivada pelo texto "O dia em que me tornei santista", que o José Roberto Torero publicou em seu blog no UOL, fiquei tentando buscar nas minhas memórias o dia em que me tornei atleticana. Ao ler o título do texto instantaneamente pensei: atleticano nasce atleticano. Mas ao lê-lo, percebi o que o autor queria dizer. Em seguida me veio à cabeça o quadro que tenho pendurado em casa: uma foto de 1978, quando eu, com menos de um ano de idade, mal me equilibrava sentada, segurando a bandeira com o escudo do Galo. Mais alguns segundos depois e veio a percepção de que aquele havia sido apenas a primeira foto, mas não o primeiro dia da tomada de consciência alvinegra.

Vasculhando lembranças fui parar no ano de 1987, numa fatídica semifinal da Copa União disputada pelo Atlético e Flamengo no Mineirão. Com 10 anos de idade, eu não sabia que se tratava do Galo da era de Reinaldo e do Flamengo da era de Zico, e que aquela partida significava muito mais do que uma vaga na final do campeonato.

Naquela quarta-feira, meu pai estava trabalhando no período noturno e eu, claro, nem tinha me dado conta da existência do tal jogo. Em casa, àquela hora da noite, certamente deveria estar dormindo, não tivesse minha irmã, três anos mais velha, resolvido ligar o radinho do papai sem ele estar lá. O inusitado da situação – aquele radio falando sozinho sem meu pai lá pra escutar - faria com que eu, pela primeira vez, parasse para prestar atenção na voz daquele moço, que falava rápido e engraçado, embolado até. Naquele desenrolar de duas horas, mais do que aprender sobre o esporte bretão, eu aprenderia os meandros de alguns sentimentos e seus embates.

Quando o Flamengo fez um, e depois dois a zero, descobri o que significava decepção. Senti um vazio esquisito, vontade de chorar cada vez que minha mãe suspirava um "coitado do seu pai!". Por outro lado, o que eu igualmente não poderia imaginar era que existisse a possibilidade de passar da tristeza profunda ao delírio apoteótico em questão de minutos. Eis que o Galo também faz um, e depois outro. Ali descobri o que era milagre. Minha mãe respirou aliviada, minha irmã chorou de alegria; a menor, três anos mais nova, de estranhamento. Já eu senti algo que me enchia de novo o peito, fazia ter vontade de pular e gritar ao mesmo tempo. O futebol ganhava sua mais nova apreciadora, e o Galo uma nova apaixonada.

Infelizmente o placar final da partida não foi o 2 a 2 comemorado pelas três irmãs e uma compreensiva mãe cruzeirense. O Flamengo fez o terceiro gol numa bobeada da nossa defesa, como eu iria entender tempos depois. Lembro que quando o jogador do time carioca driblou o goleiro e chutou a bola pro fundo da rede, o narrador do rádio não gritou gol. Parou, ficou em silêncio por intermináveis segundos, e depois soltou um: "Adiviiiiinhe...", tal como alguém que prepara o terreno para contar uma notícia triste, do tipo morte de alguma vó. O que eu não lembro direito foi se minha mãe soltou algum xingamento não muito pesado, como fazia quando brava, ou se minha irmã mais velha desabou em lágrimas, como faz até hoje quando triste. O que eu sei é que, secretamente, naquele restinho de jogo, pela primeira vez na vida eu torci fervorosamente pelo Galo. Torci para empatar de novo. Torci porque eu já conhecia que era possível. A história mostra que não adiantou meu esforço daquela vez. Mas eu não desisti, e tenho certeza que minha torcida adiantou em outras tantas. Claro também que eu queria ter uma história mais vitoriosa, entre tantas que meu time viveu, para marcar o dia da instauração da minha consciência de torcedora atleticana. O fato é que tem coisas no futebol que qualquer criança entende. Eu já conhecia o que significa caixinha de surpresas.

Dali em diante, duas décadas se passaram. À medida que crescia, assistiria a momentos de vitórias, derrotas, histórias de honra, de superação e de rara beleza, e até capítulos de brigas, violência e corrupções. Fui percebendo que futebol e vida são muito parecidos. Precisamente, só têm uma coisa de muito diferente. Quando o time da gente perde um jogo importante, naquele momento em que o narrador do rádio engasga e fica mudo, é qualquer coisa que se parece com a morte. Mas não é. Pelo menos não pra nós. Nós somos do Clube Atlético Mineiro e desafiamos a própria lei da vida. "O nosso time é imortal".
Está no blog do Mauro Betting
ADENDO - Melhor ler Pedro, da comunidade do Palmeiras, no Orkut:

MILAGRE - Na hora do Gol.
Lá estava eu, na minha cama escutando o jogo, aos 40 min do segundo tempo.
Quando o José Silverio aumentava a voz, eu me levantava, pulava e gritava.Meu pai na sala, eu no quarto, com um dia especial em mente.
Quando a voz de José Silverio se altera, eu fico naquela expectativa, e de repente TUDOfica quieto, o mundo ficou quieto por 1 segundo. Só para gritar o Gol do Verdão.
Quando me levanto e o silêncio passa, eu escuto a voz dele assim:
Gool! E que GOLAÇO!
Puta que o pariu (Desculpe), você deve pensar, putz um menino nessa idade não consegue sentir o que eu senti na hora.
Errou!
Na hora que o Silverio falou “Gol”, eu pensei em chorar, rir, gritar; abri a janela, e gritei até minha garganta não aguentar, de tão áspera que ela ficasse.
Quando viro para trás, meu pai na porta, com um grande sorriso olhando para mim.
O que eu fiz? Corri pro abraço como se eu tivesse feito o gol no jogo.
Abracei ele e desmoronei; não parei de chorar, depois sentei na cadeira do computador e comecei a enxugar as minha lágrimas quase secas em meus olhos.
Quando fiquei em silêncio, escutei minha mãe no quarto dela (que já estava pronta para dormir), falar assim:
- Esse já é um palmeirense de verdade.
Logo depois, fui para a sala assistir com o meu pai ao final da partida. Nós na expectativade acabar logo o jogo. Quando a bola vinha para a área, todos gritavam como se tivéssemos ensaiado:
- Tira, tira, tira!
Quando o juiz apitou, não sabia o que fazer. Corri no corredor em direção da minha mãe, e fiquei uns dois minutos abraçado com ela na cama, eu só chorando e ela falando:
- Que presentão, hein?
Depois disso, beijei um símbolo lindo, o do nosso Verdão.
E sabe por que é um dia especial?
Porque hoje, dia 30 de Abril de 2009, eu completo maravilhosos 13 anos de idade.E o Palmeiras me dando essa emoção de ser palmeirense, no meu dia mais querido.
Desculpa qualquer coisa.
É muito melhor ler um velho torcedor de 13 anos.

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