quinta-feira, 2 de abril de 2009

AMCE responde críticas de Adilson

CARTA ABERTA À IMPRENSA

A relação entre imprensa, jogadores, treinadores e dirigentes sempre foi conflituosa. É da natureza do futebol. Porém, este relacionamento nunca esteve tão conturbado como nos últimos tempos. Muito em decorrência da própria evolução do segmento, que exige melhor preparação tanto dos profissionais do futebol quanto de imprensa.
Um fato isolado, no entanto, vem chamando a atenção. A insistência do técnico Adilson Batista, do Cruzeiro, em querer ser unanimidade. Todos sabemos que, unanimidade, nem Cristo teve. Mas Batista se irrita com tudo e com todos e chega a se equivocar toscamente em várias situações, como na entrevista concedida ao companheiro Cosme Rímole, de São Paulo, avaliada a seguir.

"Eu fui jogador de time grande, fiz estágios, estudei, peguei time pequeno, cresci, cheguei ao Cruzeiro. E é duro ver meninos falando bobagens no microfone, criticar seu trabalho sem ter a menor noção do que diz. Eu dou treino na Toca da Raposa e a grande maioria dos jornalistas fica lanchando e conversando. E depois ainda tem coragem de comentar o que não viu. Isso me irrita muito".
O desabafo seria aceitável se, primeiro, a cobertura do Cruzeiro fosse feita apenas por “focas” despreparados. Jornalistas consagrados, com muito, mas muito mais experiência do que ele frequentam diariamente a Toca.
Batista se esquece, também, que ele só se tornou pessoa pública porque sempre tinha um profissional da imprensa, sob sol ou chuva, falando de seu trabalho. Eu mesmo, quando atuava na reportagem, o entrevistei em situação adversa. Ele treinava praticamente esquecido, depois das seguidas fraturas, no América, e tive que convencer o editor que seria uma boa matéria. Assim como eu, outros, certamente, estiveram lá, escrevendo ou falando suas “bobagens”.

Ele pode ter razão ao dizer que “jornalistas falam o que não vê” de seus treinos. De fato, os treinos que realmente interessariam são fechados. Ou será que ele pensa que os jornalistas são tolos para avaliar treinos recreativos? E mais: quem lhe disse que o fato de estudar, fazer estágio, trabalhar em clube pequeno o torna um bom mestre? Qualidade se mostra na prática, nas escalações, nas substituições, com títulos importantes.

"Ah, eu estou cheio de bobagens. Técnico passa por coisa que ninguém pode imaginar. É pressão de todo o lado, responsabilidade, estudo, noite sem dormir, viagens que ninguém sabe para ver adversários. Comandar um grupo. Ser cobrado pela diretoria. Tudo isso para vir um menininho de 18 anos, ganhando R$ 500,00, falar um monte de bobagens na rádio. Nada quanto ao salário baixo, mas pela falta de experiência do garoto, que beira a irresponsabilidade de quem o colocou lá. Milhões de pessoas que escutam, não têm a menor idéia das bobagens que estão ouvindo".
O tom arrogante revela o desconhecimento do treinador quanto ao trabalho da imprensa. Os "menininhos" de 18 anos são, única e exclusivamente, de responsabilidade de seus veículos. Talvez, por saber que o caldo seria mais grosso, Batista não ataca as empresas, direcionando sua ira para os jornalistas.
Por que ele não diz que o jornal tal, ou aquela rádio, essa emissora de TV ou aquele site são irresponsáveis? Desconhecimento? Ou será a pura maldade da qual reclama...
Por que não ataca os ex-jogadores que se aventuram como comentaristas? Porque são corporativas, alguns são bajuladores e falam apenas que o agrada.

E será que ele, catedrático como se rotula, não conhecia as pressões, as cobranças da diretoria, das torcidas para o cargo de treinador? Profissionais consagrados como Paulo Autuori, que comandou seleções, conquistou títulos em diferentes países, acabou saindo mesmo depois de conquistar o tricampeonato da Libertadores para o Cruzeiro. Foram os “menininhos” de 18 anos? Antes de Autuori, Pinheiro, ex-jogador de seleção, ex-técnico de importantes clubes, após conquistar a primeira Copa do Brasil, deixou o clube. Foram os “menininhos” de 18 anos?

Em 2003, o consagrado Vanderlei Luxemburgo, depois de levar o Cruzeiro à brilhante tríplice corroa, caiu. Será que algum “menininho” que ganha R$500,00 derrubaria Luxemburgo? Nada disso, meu caro, é da natureza da profissão.

“O Oswaldo de Oliveira tinha processado um repórter da rádio Itatiaia (emissora fortíssima em esportes em Belo Horizonte. Ganhou R$ 12 mil. O meu jogador Wagner processou outro jornalista porque o chamou de 'Cabeça de Alface'. A imprensa começou a me atingir para atingir o clube, a diretoria do Cruzeiro. Isso vale até hoje. A campanha na Libertadores é ótima. No Campeonato Mineiro também. Mas isso não interessa. O bom é fazer tudo para abalar o ambiente, mexer com o grupo. Só que eu não vou deixar. Eu enfrento. Não tenho medo, não.”
Batista se apega a dois casos isolados para tentar jogar a imprensa na vala comum. A verdade é que o único processo envolvendo cronista, anterior a esses, foi em 98 ou 99, se não estou enganado, com Levir Culpi. De lá para cá, vários técnicos foram processados por árbitros, dirigentes e outros por falarem pelos cotovelos.

Também não é verdade que a imprensa tenta atingir o Cruzeiro através dele. Isso é se achar demais. A relação da crônica mineira com o Cruzeiro sempre foi a mais salutar possível. Zezé Perrella e Alvimar Perrella sempre tiveram o reconhecimento da mídia, tratamento respeitoso. Ao contrário do que ele pensa, sempre ouço dos próprios torcedores que a campanha na Libertadores é boa, “apenas do treinador”.

Ele diz na entrevista que não tem assessoria para protegê-lo. Comete uma grande injustiça com a excelente equipe comandada pelo companheiro Guilherme Mendes, do Cruzeiro, uma das melhores assessorias de imprensa do país.

É muito fácil assumir certos comportamentos no Figueirense, num Grêmio ameaçado pelo rebaixamento, ou no Japão. Mas o Cruzeiro, nos últimos anos, se tornou muito maior do que aquele clube que ele defendeu como jogador. A torcida celeste e a imprensa sabem disso e respeitam a marca Cruzeiro muito mais do que ele parece respeitar.

A imprensa também o respeita muito mais do que ele parece merecer. Não apenas porque se trata de um técnico do Cruzeiro, mas porque assim é o povo mineiro.

Agora, é preciso que ele tenha o cuidado de não transferir para seus jogadores esse sentimento de insegurança, negativo, às vezes maquiavélico que demonstra em relação à imprensa. Isso é o que pode atrapalhar os projetos do Cruzeiro, não os “menininhos” de 18 anos.


Carlos Cruz
Presidente da Associação Mineira de Cronistas Esportivos - AMCE

Nota do blog: Mais uma vez, parabéns ao Carlos Cruz. Para entender o caso, acesse aqui o blog do Cosme Rimole.

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