quarta-feira, 22 de abril de 2009

Entrevista com o jornalista Chico Maia

Quem se acostumou a acompanhar o esporte em Minas Gerais, nas décadas de 1980 e 1990, provavelmente assistia ao Minas Esporte, da TV Bandeirantes.

O programa, comandado por feras como Flávio Anselmo, Fabíola Andrade, Dimara Oliveira, entre outros, foi o primeiro contato de muitos moradores do interior, por exemplo, com a imagem da equipe de esportes da Rádio Itatiaia, que durante um período participou da mesa redonda. Era interessante assistir ao programa e poder ver, e não apenas ouvir, Valdir Barbosa, Osvaldo Faria, José Luis Gontijo, entre outros.

Época em que ninguém falava em convergência de mídias. Internet e comunicação online eram assuntos para filmes de ficção científica. E olha quem não faz tanto tempo assim.

No Minas Esporte, foi a primeira vez que presenciei jornalistas esportivos dizerem na TV para quais times torciam em MG. As discussões, com uma pitada de provocação, do cruzeirense Flávio Carvalho, e do atleticano Chico Maia, temperavam a hora do almoço.

E o jornalista Chico Maia honrou este blog com uma entrevista. Mineiro de Sete Lagoas, Chico criou uma das primeiras assessorias de imprensa de um clube de futebol profissional, no Atlético; fundou o Jornal Sete Dias, na sua cidade natal, além do jornal Turismo de Minas. O profissional falou, entre outros assuntos, sobre a preocupante situação do Democrata/SL, a possibilidade de escrever um livro, cobertura de Copa do Mundo e Olimpíadas, futebol mineiro e nacional, mercado para jornalistas em Minas Gerais e, claro, sobre o Atlético. Acompanhe, abaixo, a entrevista:

Vamos começar com uma fácil. Para você, quem será o campeão mineiro de 2009?

He he he... Resposta fácil: quem errar menos, dentro e fora das quatro linhas.

O que você acha dos Estaduais? São mesmo necessários ou seriam mais interessantes disputas como a Sul-Minas, Rio-SP, etc?

Os estaduais são importantes sim, porém deveriam ser disputados pelos times do interior, com direito a vagas nas competições nacionais e até na Copa Sul/Minas, competição comprovadamente de maior sucesso técnico e financeiro.

Você acredita que o Atlético conseguirá recuperar o espaço perdido para o Cruzeiro nas últimas décadas em nível nacional?

Caso o Alexandre Kalil consiga manter o ritmo da administração que está tocando, sim. A força da torcida atleticana é impressionante, especialmente pela fidelidade dela. O Atlético tem muita força política e empresarial, que não vinha sendo explorada nos últimos anos. O Kalil está sabendo fazê-lo.

Como você vê a situação do Democrata, da sua Sete Lagoas, praticamente rebaixado para a Segunda Divisão em MG?

Você quis dizer TERCEIRA DIVISÃO, não é!? (Nota do blog: em Minas Gerais, a segunda divisão é, na verdade, a terceira, porque a Primeira Divisão é dividida em Módulos I e II). Infelizmente vamos ter que disputá-la. O clube terá que passar por uma mudança nos seus quadros diretivos. Uma pena esse rebaixamento, justamente agora quando o governo do estado vai reformar o estádio e favorecer a entrada de recursos no clube, com a resolução de pendências fiscais e trabalhistas. O Jacaré voltará a ser forte, não tenho dúvidas.


O América mais uma vez aposta no modelo do Conselho Administrativo. Acha que é uma solução que pode dar certo?

Sou pela fórmula convencional da maioria dos clubes brasileiros. Tem que haver um presidente e um vice, com diretores específicos para cada área. O América adotou uma fórmula apenas paliativa para resolver uma questão política sem novas rupturas. Foi a melhor opção para a saída do Baltazar, mas deverá retornar à condição tradicional no futuro.

Na sua opinião, a perpetuação de um nome no comando de um clube – como acontece com Perrelas no Cruzeiro, ou aconteceu com Dualib no Corinthians, Mustafá no Palmeiras – é benéfica?

Depende! Cada caso tem suas peculiaridades. Os Perrela têm sido bons administradores para o Cruzeiro, tanto dentro quanto fora das quatro linhas. Se forem mal a pressão da torcida os tira. Enquanto o futebol for bem, vão ficando lá!

Qual cobertura você mais gosta de fazer: Copa do Mundo ou Olimpíada?

Difícil dizer, porque cada uma tem suas virtudes fundamentais. Porém, a Copa atrai mais a atenção das pessoas nos países de tradição em futebol, como o Brasil. Tudo que a gente escreve ou fala de lá dá uma repercussão maior, pois até quem não gosta de futebol se liga durante a competição.


O jornalista Chico Maia no Allianz Arena – Munique, entre os companheiros Cosme Rímoli e Luiz Prósperi, do Jornal da Tarde, de São Paulo. Foto: Arquivo Pessoal

Pode nos contar algum momento marcante da sua carreira em Copa do Mundo ou Olimpíada?

São muitas histórias que, aliás, pretendo publicar em livros, breve! Uma de Copa: Armando Nogueira era o todo poderoso da Rede Globo e, surpreendentemente, foi demitido. Dias depois, foi cobrir a Copa da Itália'1990, para a Agência JB, escrevendo uma coluna para vários jornais do país. Acostumado a ter dezenas de secretárias e assessores para lhe entregar tudo de mãos beijadas, estava ali, só, meio perdido, obrigado a retirar sua credencial, seus ingressos para os jogos, acessar os computadores para pegar informações, enfim, tarefas de jornalista comum. E eu o socorri em várias situações, já que sou acostumado a todas essas funções e burocracias inerentes à cobertura de eventos como este. Dei caronas a ele, o que gerou brincadeiras do Telê Santana. Na época o Telê era comentarista do SBT e tirou sarro: "Que coisa hein, seu Armando! Pegando carona com esse capiau de Sete Lagoas!". O Armando respondeu prontamente: "Não pode haver capiau maior do que quem nasce em Xapuri!", numa referência à cidade dele, no Acre. De Olimpíada: tomei um enorme susto com a China. Pensava que fosse um país atrasado e deparei-me com tudo de melhor e mais avançado no mundo em termos de tecnologia, obras, sistema viário, comunicações e principalmente a acolhida dos chineses. Uma soma do que presenciei de melhor nas Copas da Alemanha, Coréia/Japão, França, Estados Unidos, Itália e México, além das Olimpíadas de Atenas, Sydney e Atlanta.

Você tem algum ídolo na sua profissão?

Não, mas tenho gratidão a vários companheiros que muito me ajudaram a começar e a tomar um rumo na profissão. Gente como Geraldo Tolentino, que me deixou escrever no jornal dele, o Centro de Minas, único de Sete Lagoas na época, quando eu tinha apenas 11 anos de idade; Geraldo Padrão, que levou-me para a Rádio Cultura, também de Sete Lagoas, quando eu tinha 13 anos, e ao Gil Costa, que contratou-me para a Rádio Capital, inserindo-me na imprensa do Estado.

O que você acha do mercado profissional para jornalistas em MG?

Nunca a situação foi tão ruim, termos de mercado de trabalho e de salários.

O número de veículos (rádio, TV, jornais, portais) é o ideal?

Pela força econômica e política de Minas, deveríamos ter muito mais veículos, com mais espaço para jornalismo. Estamos defasados.

Li em sua coluna que a Rede TV iria demitir alguns funcionários/estagiários que faziam o Rede TV Esporte e, em solidariedade, você e o LélioGustavo também resolveram deixar a emissora. Como isso aconteceu?

É a história da "crise econômica"! Disseram que seria apenas por dois ou três meses, e que depois toda a equipe seria recontratada. Preferimos esperar a situação melhorar e voltarmos todos juntos, o que, felizmente, deve ocorrer nos próximos dias.

O STF está para julgar a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista. Qual sua opinião sobre esse assunto?

Para mim tanto faz. Trabalhei durante um bom tempo sem ter diploma. Graduei-me em jornalismo e digo valeu demais a pena ter feito vestibular e passado 4,5 anos frequentando as aulas na antiga Fafi-BH, hoje UNI. Conheci ótimas pessoas, fiz boas amizades que me foram e são úteis demais como jornalistas e amigos.

O que você acha do modelo de gestão da CBF, na qual Ricardo Teixeira é sempre aclamado presidente sem haver sequer chapa de oposição?

É o Brasil, onde tudo funciona desse jeito, em qualquer instância onde haja eleições e interesses pessoais. No Congresso é desse jeito, nas Assembléias Legislativas, enfim. A CBF com seus dirigentes são apenas mais um extrato da sociedade brasileira. A imprensa combate, mas não adianta. O poder está com quem está de posse da cadeira e da caneta.

Qual sua opinião sobre a Timemania?

Um fracasso. Se até a tradicional Loteria Esportiva está em baixa, levantar mais um jogo com esse perfil, é um erro.

Você acredita que Ronaldo Fenômeno voltará a ser um grande jogador, capaz de dar alegrias a torcedores? E acredita na volta dele para a seleção?

Pode-se esperar tudo dele. Duvidei que jogasse a Copa de 2002 e quebrei a cara.

Para você como será a Copa 2014 no Brasil? Uma festa popular ou apenas evento para quem tenha muito dinheiro? E o público? Acredita que em jogos de pouco interesse haverá o comparecimento do brasileiro?

Muita gente ficará rica com obras e contratações de serviços suspeitos. Os cofres públicos serão atacados, haverá escândalos e ninguém será punido, como no recente PanRio'2007. Mas, será uma grande festa popular e o país será invadido por gringos de todas as partes do mundo, que são loucos para conhecer o Brasil e terão uma grande oportunidade em 2014. Qualquer joguinho terá grande público porque as pessoas vão querer entrar para a história dizendo: "fui a um jogo de Copa do Mundo" e guardarão o ingresso como um troféu.

Você nunca escondeu ser atleticano. Isso já rendeu algum problema para você profissionalmente?

Não, porque procuro não misturar as coisas quando escrevo ou falo em meu trabalho.

Entre tantos erros cometidos no Atlético nos últimos tempos, tem como apontar um apenas como o maior deles?

Não ter mudado o estatuto para possibilitar que Elias Kalil fosse reeleito pela terceira vez consecutiva, em 1985. A saída dele iniciou o processo de queda do clube.

Como você está vendo a administração de Alexandre Kalil frente ao Galo até o momento?

Tem sido a segunda melhor da história atleticana, desde que passei a conhecer o Atlético. Só perde para a do pai dele, Elias.

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